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O PL do Estuprador | com Jacqueline Pitanguy | 232

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Um minueto macabro levou à pista de dança legislativa, conjuntamente, o Conselho Federal de Medicina, o Supremo Tribunal Federal e a Câmara dos Deputados. O primeiro aprovou uma resolução que impede os médicos de realizar o aborto legal após a 22ª semana de gestação, para o qual é necessário recorrer ao método da assistolia fetal. A decisão do CFM foi questionada junto ao STF e o ministro Alexandre de Moraes suspendeu a decisão do órgão de classe dos médicos. Antes mesmo de chegar ao Supremo, essa disputa já era travada em níveis inferiores do Judiciário. Na primeira instância a medida restritiva do CFM havia perdido seus efeitos, mas ela foi restaurada na segunda instância pelo Tribunal Federal da 4ª Região (TRF4), o mesmo que também deu guarida aos abusos da Operação Lava Jato. No âmbito federal, em reação à decisão de Moraes, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-líder da bancada evangélica e homem de confiança do pastor extremista Silas Malafaia, propôs um projeto de lei que t

Europa: extrema-direita assusta | com Vinícius Bivar | 231

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As últimas eleições para o Parlamento Europeu assustaram os democratas no Velho Continente e fora de lá. A razão para isso foi o avanço dos partidos de extrema-direita nos dois maiores países da União, França e Alemanha. Diante da derrota de seu partido e do ganho significativo de cadeiras do Rassemblement National de Marine Le Pen e Jordan Bardella, o presidente Emmanuel Macron dissolveu o parlamento e convocou eleições antecipadas, numa jogada de alto risco. No país ao lado, a Alternativa para a Alemanha (AfD) ganhou em todos os distritos da parte do país correspondente à antiga Alemanha Oriental e impôs uma acachapante derrota ao Partido Social Democrata (SPD) do chanceler Olaf Scholz. Também na Italia a ultradireita se saiu bem, com o crescimento dos Fratelli di Italia da primeira-ministra Giorgia Meloni, que se sobrepôs inclusive a outros partidos da ultradireita ou populistas. Contudo, apesar do avanço nesses três grandes países (as três maiores economias da União Europeia), a vi

Populismo e democracia no México | com Adrián Gurza Lavalle | 230

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Pela primeira vez em sua história o México elegeu uma mulher para a Presidência do país, a cientista laureada com o prêmio Nobel, Cláudia Sheinbaum, do Movimento Regeneração Nacional (Morena), partido do presidente Andrés Manuel López Obrador, em aliança com o Partido Verde Ecologista de México e o Partido do Trabalho (PT). Sheinbaum venceu a disputa com 60% dos votos, mais do que o dobro da segunda colocada, Bertha Xóchitl Gálvez Ruiz, postulante da coligação entre o direitista Partido de Ação Nacional (PAN), o tradicional Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o país por sete décadas como agremiação paraestatal, e o Partido da Revolução Democrática (PRD), antiga dissidência à esquerda do PRI, que definha após ter sido abandonado por López Obrador, que saiu para criar o Morena. Num distante terceiro lugar ficou o centro-esquerdista Jorge Álvarez Máynez, que disputou pelo Movimento Cidadão. Contudo, a coligação do Morena não amealhou apenas a Presidência, mas tamb

Negacionismo | com José Szwako & Lorena Fleury | 229

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A pandemia da Covid-19 se fez acompanhar de uma grande onda de negacionismo. Havia os que negavam a existência da doença, sua gravidade ou as formas cientificamente embasadas para combatê-la. Para justificar a negação, apresentavam pretensas evidências anedóticas, achismos, informação distorcida, teorias da conspiração e supostos achados alternativos aos do consenso científico dominante. A pandemia, contudo, não foi caso isolado. O negacionismo aparece em muitas outras situações, como na maneira como se lida com o problema das mudanças climáticas e do aquecimento global. Negacionistas afirmam que tais transformações não estão ocorrendo, ou que, embora estejam a acontecer, não decorrem da ação humana, mas de causas naturais como, por exemplo, os vulcões. Outros afirmam – apelando ao conspiracionismo – que tudo se trataria de uma invenção do "climatismo", uma faceta do "globalismo". No Brasil, o negacionismo climático ganhou proeminência após a catástrofe ambiental no

A Palestina Reconhecida | com Natália Calfat | 228

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Em meio ao massacre de civis promovido por Israel na Faixa de Gaza, além da repressão à população palestina na Cisjordania ocupada, três países europeus decidiram reconhecer o Estado Palestino: Espanha, Irlanda e Noruega. Pouco antes desse reconhecimento do Estado da Palestina pelas três nações européias, naufragou uma tentativa de fazer avançar o mesmo na ONU, novamente por causa de um veto dos EUA no Conselho de Segurança. A presença da Noruega no grupo é particularmente significativa, já que o país abrigou as negociações que culminaram nos Acordos de Oslo, em 1993, com a mediação dos Estados Unidos. Naquele momento se reconhecia como caminho a solução de dois Estados e se trocava "paz por terra". O problema é que tais acordos jamais foram cumpridos. O signatário deles por Israel, Yitzhak Rabin, foi assassinado por um extremista de direita israelense em 1995. A isso se seguiram ataques terroristas de grupos extremistas palestinos e a continuidade da construção de colônias d